Funcionários de embaixada são dispensados do trabalho; Itamaraty tem planos para retirar brasileiros do país se situação piorar.
O embaixador do Brasil em Damasco, Edgard Casciano, afirma que a violência na capital síria chegou a um ponto em que funcionários da embaixada brasileira foram orientados nesta quinta-feira a não ir trabalhar. Por telefone, ele falou à BBC Brasil sobre o clima na cidade com os ataques rebeldes e os confrontos entre tropas do governo e opositores.
De sua residência em Damasco, Casciano disse que desde quarta-feira a capital vive seus dias mais violentos desde o início da crise, há mais de um ano, com intensos tiroteios que deixaram as ruas completamente desertas.
'O perigo é real. É impossível pôr os pés na rua. É uma situação extremamente problemática', disse o embaixador.
Ele contou que os tiroteios e explosões eram tão intensos na noite de quarta-feira que não conseguiu dormir.
'Helicópteros sobrevoavam constantemente e dava para ouvir muitas explosões que, pela intensidade, eram consequência de armas pesadas'.
Há quatro anos em Damasco, Casciano disse que a situação na capital é muito tensa e já não há garantias de segurança para as embaixadas estrangeiras no bairro.
'Até cogitamos que o governo brasileiro enviasse agentes de segurança para proteger a embaixada. Mas com o aeroporto fechado, a ideia foi deixada de lado'.
O embaixador também falou que os combates respingaram em seu bairro na capital, com balas perdidas atingindo a vizinhança e até a sua casa.
'Uns dias atrás, eu achei balas de rifles Ak-47 em meu jardim. Ninguém está seguro na cidade', afirmou.
A ofensiva do Exército Livre da Síria (ELS) contra tropas leais ao governo em Damasco começou no domingo e já entrou em seu quinto dia. Vários bairros nos subúrbios ao sul da capital já foram tomados por rebeldes.
Um atentado suicida, ontem, matou o ministro de Defesa, seu vice e o cunhado do presidente Bashar al-Assad. O paradeiro do líder sírio ainda é desconhecido, já que ele não fez nenhuma aparição pública desde o atentado ao quartel-general das forças de segurança do país.
O governo vem mobilizando mais tanques e tropas em direção à capital e, segundo analistas, antecede uma grande batalha pela cidade.
De acordo com a ONU, mais de 16 mil pessoas já morreram no país desde o início da revolta, há mais de um ano, que exige a renúncia do presidente Bashar al-Assad.
BrasileirosDe acordo com o diplomata, a embaixada já tem um plano de contingência para retirar brasileiros do país se a situação continuar se deteriorando.
No entanto, ele disse ser difícil prever atualmente o número de brasileiros no país, pois vários deles já deixaram a Síria sem informar a representação em Damasco.
'Quase todos têm também a nacionalidade síria e não expressavam o desejo de sair do país. Mas com o agravamento da situação, vários saíram da Síria sem avisar. Alguns foram para Beirute [capital do Líbano], outros voltaram ao Brasil', afirmou.
Segundo ele, a maioria dos brasileiros registrados são da região de Damasco, mas há uma comunidade na região de Latakia e Tartous, na costa da Síria, reduto de alauítas (grupo sectário ao qual pertence Assad) e cristãos.
'Naquela região da costa, a situação é bem menos tensa, com poucos combates entre rebeldes e governo. Então não fomos contatados ainda por brasileiros'.
Em contrapartida, o setor consular da embaixada vem registrando um grande aumento no pedido de visto de turista por parte de cidadãos sírios.
'Muitos têm parentes no Brasil e desejam sair do país momentaneamente'.
Para ele, o atual clima é de 'guerra aberta' na Síria. Ele disse que seus amigos sírios mostram-se muito preocupados e com medo do futuro.
'A guerra em Damasco os deixou extremamente apavorados', afirmou.
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