É nas aulas do ensino médio que atuam a maior parte dos profissionais.
Curso ainda é útil como formação complementar e no terceiro setor.
Filosofia é disciplina obrigatória no ensino médio
desde 2008 (Foto: Divulgação/Colégio São Luís)
desde 2008 (Foto: Divulgação/Colégio São Luís)
Desde 2008, quando o governo federal voltou a incorporar as disciplinas de filosofia e sociologia no currículo obrigatório do ensino médio, o mercado de trabalho de quem tem diploma de licenciatura em filosofia tem se multiplicado. As duas matérias eram, desde 1971, opcionais e apareciam com pouca expressão nas salas de aula dos adolescentes, principalmente na rede privada. Por causa da mudança, ser professor tem sido o caminho mais comum aos recém-formados no curso. A profissão, porém, vai além da sala de aula: o profissional de filosofia ainda pode atuar no terceiro setor, dar consultoria para empresas e seguir carreira acadêmica como pesquisador.
Muitos, como Fábio Mesquita, de 33 anos, acabam atuando em mais de um campo. Além de dar aulas em dois colégios particulares de São Paulo -- o São Luís e o Sion --, Fábio já concluiu seu mestrado e atualmente estuda para fazer um doutorado na área. Além do bacharelado e da licenciatura em filosofia, concluídos em 2003, pela Universidade de São Paulo (USP), ele também tem diploma de história.
Fábio conta que optou pela filosofia porque, entre as matérias que preferia no colégio, com essa ele teve menos contato. "Conhecia mais história que filosofia, sou da geração que não teve filosofia no ensino médio. Mas eu achava interessante, ouvi falar nos testes vocacionais, prestei as duas e acabei indo para a filosofia. Adorei o curso, achei fabuloso."
Segundo ele, a graduação em filosofia difere das outras ciências humanas: enquanto as carreiras de letras e história, por exemplo, oferecem aos estudantes uma base de cultura e conhecimento, segundo ele, filosofia "é um curso que te ensina a pensar". O filósofo e professor explica que, como as disciplinas, no decorrer do curso, apresentam diversas teorias de filósofos, e umas se contrapõem às outras, o universitário acaba sendo levado a criar seu próprio conhecimento.
"Como cada filósofo te explica a realidade de um ponto de vista e às vezes eles se contradizem, você é impulsionado pelo pensamento, pela oposição de ideias", diz.
Fábio conta que uma parcela dos vestibulandos opta pelo curso como uma complementação de sua formação. Ele afirma ter estudado com colegas que cursavam medicina, engenharia ou direito paralelamente à graduação em filosofia.
Para o professor, que hoje também dá aulas de história, os universitários que optam pela licenciatura acabam encontrando bastante satisfação na sala de aula. Como a disciplina não é exigida nos vestibulares, existe "uma liberdade mais interessante para o professor produzir um trabalho reflexivo, porque os alunos não podem só decorar os conceitos dos filósofos".
O incentivo ao pensamento crítico e ao enfrentamento dos problemas com uma visão mais ampla da realidade, porém, são elementos-chave transmitidos nas aulas de filosofia que, além de servirem para a tomada de decisão na vida dos estudantes, também são úteis para o desenvolvimento dos argumentos usados nas provas de redação dos vestibulares.
Perfil crítico
De acordo com a Associação dos Professores de Filosofia e Filósofos do Estado de São Paulo (Aproffesp), o perfil de um profissional de filosofia inclui o gosto pelos conteúdos de humanidades em geral, além da necessidade de ter senso crítico e a disposição para se voltar às superações das dificuldades das relações sociais e dos novos paradigmas, e aos questionamentos dos valores sociais, econômicos e de classe.
De acordo com a Associação dos Professores de Filosofia e Filósofos do Estado de São Paulo (Aproffesp), o perfil de um profissional de filosofia inclui o gosto pelos conteúdos de humanidades em geral, além da necessidade de ter senso crítico e a disposição para se voltar às superações das dificuldades das relações sociais e dos novos paradigmas, e aos questionamentos dos valores sociais, econômicos e de classe.
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Fábio afirma que a formação crítica não precisa estar formada no momento do vestibular, já que a faculdade aborda as teorias filosóficas e a história da filosofia com maior profundidade e acaba levando os universitários a outros níveis de pensamento. "O curso me ajudou a ver a realidade de outra forma, a ser um ser humano diferente do que eu era."
A inclusão da filosofia no ensino médio, segundo a associação, ajuda a aumentar nos estudantes, o grau de criticidade e de leitura , além de ajudá-los a defenderem suas ideias, o que avança significativamente o desempenho pedagógico e cognitivo dos alunos tanto em filosofia quanto em outras disciplinas.
Para Fábio, a filosofia ainda é uma disciplina com metodologia em desenvolvimento, ao contrário de outras matérias, com as quais tanto professores quanto estudantes já estão acostumados.
"Cada professor tem uma experiência, tenta algo diferente em sala de aula. Com os alunos também. Tem o aluno tradicional, vai bem em todas as matérias, mas tem dificuldade na de filosofia, e o aluno que não é tão bom em outras disciplinas, mas tem espírito crítico e, por isso, se dá melhor na filosofia."
A dinâmica das aulas tem sido inclusive adotada, em algumas escolas particulares, no ensino fundamental. Segundo a diretoria da Aproffeso, existe na Assembleia Legislativa de São Paulo um projeto de lei para introduzir a disciplina também no fundamental dos colégios da rede pública.
Mercado
"O grande bolo de quem se forma em filosofia vai para a docência. Como agora é obrigatória a disciplina no ensino médio, todas as particulares e as públicas exigem professores de filosofia", explica Fábio. Porém, a relação do filósofo com a busca por soluções aos problemas da sociedade pós-moderna faz com que sua capacitação seja requerida além da sala de aula.
"O grande bolo de quem se forma em filosofia vai para a docência. Como agora é obrigatória a disciplina no ensino médio, todas as particulares e as públicas exigem professores de filosofia", explica Fábio. Porém, a relação do filósofo com a busca por soluções aos problemas da sociedade pós-moderna faz com que sua capacitação seja requerida além da sala de aula.
Nas organizações não-governamentais, a formação em filosofia é útil na produção e execução de projetos voltados à mudança de realidades sociais. Além disso, as empresas também buscam o olhar do filósofo para suas soluções, e um nicho que tem se aberto para os formados na área é a consultoria e as palestras. De acordo com a Aproffesp, muitos filósofos também atuam na área editorial, como escritores.
"Os filósofos devem mostrar caminhos para as pessoas e mostrar que é possível fazer o que gosta e encontrar um sentido na existência, no trabalho na família. As pessoas ainda buscam esse sentido", diz Fábio.
Segundo ele, a filosofia tenta criar novos caminhos para as pessoas e para a humanidade enxergarem a realidade de outra forma, mas, até pelo conceito da formação, deve haver um limite para a mercantilização das ferramentas adquiridas na graduação. "O que acontece é que o sistema acaba dando à filosofia um valor de mercado, isso não vejo de bom grado. Se a filosofia se tornar um produto a ser vendido, ela nega sua proposta original, que seria de um olhar diferenciado do real, de novas propostas."
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