segunda-feira, 26 de novembro de 2012


Quatro pessoas são assassinadas por dia na Capital

De janeiro a outubro deste ano, Fortaleza teve 1.340 assassinatos. Barra do Ceará lidera, com 63 casos. Estatística supera a de São Paulo. Polícia garante ter a situação sob controle e atribui índice à incidência das drogas


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A tentativa de um grupo invadir o território rival é o estopim do “salve-se quem puder”. A auxiliar de cozinheira tem episódios frescos na memória. “É bala vai, bala vem... Minha vizinha morreu com um tiro na cabeça. Chegaram e mataram”, lembra Célia Lopes, 48. Ela convive há duas décadas e meia com o estigma (e a rotina) de uma Barra do Ceará violenta. Uma Barra do Ceará onde 63 pessoas foram assassinadas de janeiro a outubro deste ano. Uma Barra do Ceará com o maior índice de homicídios dolosos (com intenção de matar) numa Fortaleza com 1.340 ocorrências registradas nos dez primeiros meses de 2012. Média de 4,39 casos/dia.

A capital cearense supera a dita cidade mais violenta do Brasil. Até 31 de outubro, a capital paulista contabilizava 1.135 assassinatos, segundo a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSPSP). No comparativo estadual, porém, SP lidera com folga. Teve 4.396 homicídios contra 2.887 casos em 155 municípios daqui (9,46/dia). O POVO fez a análise após consultar relatórios disponibilizados na Internet pela SSPSP e pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS).

Em Fortaleza, nos dez meses estudados, as mortes ocorreram em 106 dos 119 bairros reconhecidos pela Prefeitura (ver mapa). Janeiro foi o período mais violento, com 163 assassinatos em 67 localidades e uma greve da Polícia Militar que inflou os índices já na primeira semana de 2012.

O Comando da PM do Ceará garante ter o controle da situação. E pondera quanto às estatísticas de SP, que tem uma população 4,5 vezes maior que a da capital cearense e apresenta 15% menos casos que Fortaleza. “Acho que tem que se repensar”, diz o comandante-geral, coronel Werisleik Pontes Matias.

O militar atribui a gravidade do cenário na Barra do Ceará ao confronto de gangues e ao tráfico de drogas, também apontado por ele como preocupante no resto da cidade. “Se tirássemos o homicídio oriundo da droga, você ia ver que a taxa era lá embaixo. Porque quem é mais vítima de homicídio é traficante ou gente envolvida com o tráfico. O crack é um desafio mundial e não só do Ceará. O índice de hoje é alto? É alto. Precisamos melhorar? E muito! Mas, fora de controle, não está. Estamos numa curva decrescente (de homicídios). Agora...querer que não exista nenhum homicídio é utópico. A Barra tá um céu hoje em dia. E a tendência é melhorar porque, das capitais do Nordeste, Fortaleza é a mais calma”, sublinha Werisleik.

Pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará (UFC), Ricardo Moura diz que o mapeamento feito pelo O POVO é similar a uma cartografia da UFC de meses atrás. “Se não mudou muita coisa, mostra que não foram feitas ações estruturais que resolvessem ou diminuíssem o problema, que é localizado. A dinâmica da violência permanece, se tem o diagnóstico, mas não se tem um conjunto de ações de Governo”, critica.

Moura pondera a importância de várias secretarias agirem em conjunto na implementação de políticas públicas educacionais, de esporte e lazer etc. Apenas reforço policial não significa, necessariamente, redução de casos. E arremata: “é importante também a sociedade perceber isso como problema. Ela precisa se indignar por cada caso. Um grande número de jovens está morrendo”.

ENTENDA A NOTÍCIA

Enquanto não houver junção de políticas públicas de várias secretarias, tanto da Prefeitura quanto do Governo do Estado, índices devem permanecer elevados. Comunidade também precisa se envolver (e cobrar) mais dos gestores.

Serviço
Acesse as estatísticas do Ceará e de São Paulo em
http://bit.ly/Kp1RqF e http://bit.ly/g27XKS

Multimídia

O mapa dos homicídios em Fortaleza é o Tema do Dia na cobertura de hoje dos veículos do Grupo de Comunicação O POVO. Confira:
 
Para escutar: na rádio O POVO/CBN (AM 1010 e FM 95,5), o tema será discutido no programa Grande Jornal, das 8 às 11 horas, e/ou no programa Revista O POVO/CBN, das 15 às 17 horas
 
Para ver: a TV O POVO trará matéria sobre o tema no O POVO Notícias, às 18h30min. Assista à programação pelo canal 48 (UHF), 23 (Net) e 11 (TV Show). Veja o vídeo na página da TV O POVO no www.youtube.com/user/tvopovo

Para ler e opinar: acompanhe a repercussão entre os internautas na página do O POVO no facebook (www.facebook.com/ OPOVOOnline ) e no portal O POVO Online (opovo.com.br/ fortaleza)

Sem resposta

No último dia 19, O POVO solicitou à SSPDS relatório com os homicídios dolosos registrados em 2011 em Fortaleza (bairro a bairro e mês a mês), a exemplo do que a pasta faz ao publicar os dados referentes a 2012 na Internet.
 
O pedido foi feito formalmente à assessoria de imprensa e à Central de Estatística da Secretaria. “Considerando o alto número de demandas existentes hoje na Célula de Estatística (internas e externas) e o grande volume de dados por você solicitados, informamos que: a sua demanda será atendida de acordo com a ordem de chegada das demandas existentes”, respondeu a assessoria.
 
Nenhum retorno foi dado até o fechamento da matéria, na noite de ontem.

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