Dia Nacional da Consciência Negra: Fortaleza tem números favoráveis
Em Fortaleza, a população negra dobrou nos últimos dez anos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
O Dia Nacional da Consciência Negra comemorado neste dia 20 é uma data importante para a sociedade brasileira, principalmente para 51% da população brasileira. “Para os negros e as negras tem um significado muito mais importante do que a comemoração, porque a cada ano esse dia significa que nós caminhamos na direção da inclusão”, explica o coordenador da Coordenadoria de Políticas da Promoção da Igualdade Racial em Fortaleza, Luiz Bernardo.
De acordo com Bernardo, os números mostram que os negros não estão em alguns “territórios naturalizado brancos”. “Até a pouco tempo não estávamos nas universidades, através da luta política e do reconhecimento do país de que o racismo deixou esse povo de fora, conseguimos as cotas. Hoje, temos um número significante dentro da universidade criando uma referência no campo, onde não estávamos”, disse.
No campo do trabalho, o coordenador disse que há carência de negros na Medicina, no Direito e nas chefias e diretorias das grandes empresas. “O contato imediato com turista demonstra uma preferência. Você não vê no balcão de um hotel um recepcionista negro aqui, em Fortaleza. A diferença é bastante visível”.
Luiz ainda ressaltou que há muito para ser realizado, como no campo da estética. “Quando trabalharmos nesse ponto, acabando com ditadura do cabelo liso e loiro, você vai ver que a coisa vai mudar bastante. Os negros se negavam por não terem referência. Quando o grupo aparecer mais, isso se tornar moda, vai ser uma maneira de se contrapor”, afirmou.
Crescimento da população
Em Fortaleza, a população negra dobrou nos últimos dez anos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Censo 2000 identificou 59.742 pessoas da cor preta vivendo na capital, correspondendo a apenas 2,79% da população da época, que era de 2,141 milhões. Já o Censo 2010 registrou 108.349 negros em Fortaleza, o que representa 4,42% da população residente de 2,452 milhões.
Em contrapartida, o número de residentes da cor branca reduziu na última década na capital. Segundo o IBGE, o total de 884.113 ou 41,29% no Censo 2000 passou para 888.933 residentes ou 36% da população, no Censo 2010.
No Ceará, o crescimento também é visível. Segundo dados do IBGE, o Censo 2000 identificou 305.279 mil negros, o que correspondia a 4,1% da população da época (7.431 milhões). Já no Censo 2010, o número aumentou para 385.207 mil, o que corresponde a 4,56% da população, que também cresceu e corresponde a 8.452 milhões.
De acordo com Luiz Bernardo, o número da população negra cresceu principalmente pela valorização da raça. “Até os anos 70 e 80, ser negro no Brasil era representar um grupo de pessoas escravas, com referências ruins, ligadas a marginalidade. A não inserção nos meios de comunicação também facilitou a negação de ser negro”, considerou.
Ele ainda contou que, em algumas épocas como a ditadura, ser negro era correr risco de morte e isso distanciava o negro dele mesmo. “Toda a luta começou a devolver ao negro sua autoestima. Eu acredito que pretos e pardos vão crescer mais ainda, por causa de toda luta, valorização e espaço conquistado”, ressaltou.
Relação com o trabalho
De acordo com a Pesquisa de Emprego e Desemprego realizada na Região Metropolitana de Fortaleza (PED-RMF), houve uma melhoria nos indicadores do mercado de trabalho, entre 2009 e 2011. A melhora é especialmente com relação à diminuição das desigualdades existentes entre as populações negra e não-negra, em aspectos como ocupação, desemprego e rendimento.
Além disso, a taxa de desemprego da população negra (que era até 1,9 ponto percentual acima da não-negra em 2009), caiu para 0,5 ponto percentual, em 2011, quando registrou 9% entre os negros e 8,5% entre os não-negros. Em termos de setor de atividade, a população negra é relativamente menor no setor terciário da economia (comércio e serviços).
A dinâmica da expansão das oportunidades de trabalho, especialmente aquelas com carteira assinada, favoreceu maior nível de formalização das relações de trabalho, embora a população negra ainda esteja mais presente nas ocupações que estão à margem da proteção social e trabalhista (sem carteira assinada, trabalho autônomo e emprego doméstico).
Rendimentos
Entre 2009 e 2011, houve também diminuição das disparidades de rendimento entre negros e não-negros. Em 2009, um trabalhador negro chegava a ganhar 29,3% a menos que o trabalhador não-negro, esta diferença de remuneração caiu para 24,9%, em 2011.
Nesse período, houve redução da jornada de trabalho (média) semanal na RMF (de 44 para 43 horas), embora a população negra ainda trabalhe uma hora a mais do que a não-negra, em média (43 contra 42 horas.
Seminário sobre economia
Luiz Bernardo ressaltou que nos dias 19 e 20 de novembro está acontecendo o 3º Seminário da Economia do Negro no Imparh (Avenida João Pessoa). “Vamos discutir questões além do mercado de trabalho, sobre o negro na economia. Quem são os empresários negros? Como os negros podem se organizar numa rede de comércio?”, informou o coordenador.
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