terça-feira, 23 de outubro de 2012


Pacientes dormem no chão em hospital psiquiátrico do Ceará
Único hospital do gênero não atende a demanda no estado do Ceará.
Número de leitos psiquiátricos reduziu à metade desde 2004.



No único hospital de emergência psiquiátrica do Ceará, os pacientes ficam amontoados pelo chão do pátio da unidade. A maioria dos pacientes que chegam ao Hospital de Saúde Mental de Messejana, na Região Metropolitana de Fortaleza, não têm condições de voltar para casa porque estão em surto e oferecem risco para a família e para eles mesmos.
Durante o tempo em que permanecem no hospital eles são medicados, mas não podem ser internados por falta de vagas. A espera por leito, segundo o hospital, pode demorar até uma semana.
“Seis dias estou com ele aí, dormindo no chão com a perna inchada, tossindo e sentido dor de cabeça. Medicam eles, deixam eles aí dormindo aí no chão porque não tem nada para botar eles”, diz a dona de casa Maria Jacinta, que levou um paciente ao local.
“Além do constrangimento, nós vemos situações, dramas familiares, às vezes crimes, suicídios e diversas situações que não deveriam ocorrer se houvesse leitos, se houvesse a possibilidade de tratamento”, diz o médico psiquiatra Adelmo Pontes.
Uma mulher que prefere não se identificar relata que o irmão dela apresenta comportamento violento, e que poderia estar bem caso recebesse tratamento adequado. “Com meu filho, de 20 anos, ele deu três facadas, uma no pescoço e duas na barriga. Se eu voltar para a minha casa ele diz que vai terminar o que ele começou. É meu filho que está ferido em casa com três facadas que ele deu”, afirma.
Segundo o Ministério da Saúde, o número de leitos para doentes mentais no Brasil sofreu uma redução de 36% em oito anos. Em Fortaleza, quatro hospitais psiquiátricos deixaram de receber internações desde 2004 porque o repasse do Sistema Único de Saúde (SUS) não cobria as despesas. O número de leitos caiu pela metade.
Em maio deste ano, a Justiça Federal no Ceará determinou que a União, governo estadual e o município tomem providências para que o tempo de espera para a internação em hospitais psiquiátricos não supere o tempo de seis horas.
“Seis horas para internação a gente acha um tempo muito curto. A gente estava negociando essa proposta para que fosse 24 horas o tempo de espera”, rebate o coordenadora municipal de saúde mental Rane Félix.
A promotora de Justiça Isabel Porto afirma que vai cobrar o cumprimento da determinação. “Agora vamos ter que buscar judicialmente até leitos para internação psiquiátrica ou a colocação desses pacientes em leitos de hospital geral, mas que tenha equipe própria para assistir aqueles pacientes”, diz a promotora.
Enquanto não há leitos, os pacientes seguem dormindo no chão da unidade. “Todos os dias eu dormi nesse chãozinho aí com ele. Ele surta, ele foge, ele até fugiu aqui uma vez e ele fica desnorteado”, diz Lúcia de Fátima, acompanhante de um paciente do Hospital de Saúde Mental de Messejana.
O Ministério da Saúde afirma diz que a redução de leitos faz parte da mudança no tratamento aos doentes mentais que passaram a ser atendidos pelos Centros de Atenção Psicossocial. “Há uma tendência mundial que o Brasil segue com a lei da reforma psiquiátrica, mas temos que ter alternativas concretas para atender essas pacientes. Para desativação tem que ter uma rede substitutiva. Nós não podemos concordar com pacientes em condições inadequadas para o bom atendimento”, diz Evélcio Magalhães, do Ministério da Saúde.
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