quinta-feira, 6 de dezembro de 2012


Projeto do Museu do Mar pode ser resgatado no Ceará





Uma das obras do arquiteto em Fortaleza é o prédio da extinta TV Manchete, localizado na Avenida Antônio Sales


O projeto em forma de diamante, seria construído na Praia de Iracema foto: divulgação

A “arquitetura arte” de Oscar Niemeyer expressa nos traços que mesclavam elementos modernos e barrocos, fazendo das suas obras verdadeiros monumentos que, além do Brasil, embelezam cidades de vários países mundo afora, também passou pelo Ceará. Ainda que de maneira acanhada, o legado do arquiteto centenário se materializa em duas obras e no projeto do Museu do Mar, na Praia de Iracema, em Fortaleza.

Uma das obras é o prédio da extinta TV Manchete, localizado na Avenida Antônio Sales esquina com a Rua Barbosa de Freitas, a outra, trata-se da famosa Casa Johnson, de propriedade do empresário norte-americano, Herbert Johnson, na Avenida Beira-Mar, construída em 1942, abrigando hoje o Hotel Mareiro.

Após a reforma, a construção ainda conserva traços do projeto original assinado pelo arquiteto-artista que conseguiu “produzir símbolos nacionais”, afirma Marcondes Araújo Lima, arquiteto e urbanista, que também é professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Diferentemente do edifício da extinta TV Manchete do Rio de Janeiro, o prédio de Fortaleza não apresenta características próprias das obras de Niemeyer, marcadas pela exuberância das formas. No caso, o edifício no Ceará foge totalmente ao estilo do arquiteto que promoveu o nome da arquitetura brasileira para o resto do mundo.

No entanto, o projeto é atribuído a Niemeyer, que chegou aos 104 anos fazendo o que mais gosta na vida: brincar com as formas, ao criar espaços em que, muitas vezes, a concepção estética se sobrepõe à funcionalidade. Mas é dessa maneira que Niemeyer constrói não apenas seu nome, mas promove o Brasil, além de contribuir para popularizar a arquitetura.

Independentemente da classe social e do grau de instrução, poucos são os brasileiros que não associam o nome de Niemeyer ao criador de Brasília.

O arquiteto cearense Fausto Nilo fala sobre “a casa modernista”, como era conhecida a residência de Herbert Johnson, fabricante de cera de carnaúba que chegou ao Ceará por volta de 1935, com o objetivo de pesquisar sobre as potencialidades da palmeira, símbolo da resistência do povo do Nordeste. Lembra que a casa possuía uma rampa, que após a reforma, fica no meio da recepção do hotel.

Fausto Nilo considera Niemeyer um nome “fundamental, um dos maiores arquitetos do mundo”. Seu reconhecimento, sobretudo após a construção de Brasília (1956/1962) fez com que muitos arquitetos viessem de outros países para conhecer a cidade-modelo. “A influência na nossa geração dos anos 1970 foi fundamental”, afirma Fausto Nilo. O cearense considera Niemeyer um gênio que serve de inspiração ética e profissional. “Devemos demais a ele pela contribuição para modernizar o Brasil”, avalia.

Museu do Mar

Uma obra de Niemeyer que não saiu do papel. Assim pode ser definido o projeto do Museu do Mar, desenhado pelo arquiteto em 2003, aos 95 anos. Ele concebeu a obra em forma de diamante, que seria construída na Praia de Iracema, com entrada na altura do espigão da Avenida Rui Barbosa. 
O projeto foi feito durante o governo de Lúcio Alcântara (2003/2007) com o objetivo de mostrar a relação do homem cearense com o mar. Com forma octogonal, a área total do equipamento é de 4,5 mil metros quadrados e o “diamante”, em vidro, teria 65 metros de diâmetro e 20 metros de altura. 
“É um projeto muito bem feito”, define Lúcio Alcântara, que diz não saber informar por que a obra não seguiu em frente. O projeto já continha os cálculos para sua execução, no entanto “uma série de obstáculos impediu que fosse executada”.

Pirambu

O ex-governador lamentou o fato de o Ceará não contar com a obra projetada por Niemeyer, acrescentando que houve muita reclamação à época e que quiseram transferi-la para o Pirambu. 
“O projeto original previa a construção no espigão da Rui Barbosa, conta. Na parte central, ficaria o museu semelhante ao formato de um diamante”, diz, comparando a obra ao Museu de Arte Contemporânea (MAC), construído pelo arquiteto, em Niterói.

“Tenho ainda o projeto comigo. Acho que até a licitação chegou a ser aberta”, recordou, admitindo que a não realização foi “uma das coisas me deixaram triste”. Lúcio contou ainda sobre a presença do projetista de Niemeyer, José Carlos Süssekind, que ao sobrevoar a cidade para achar o local mais apropriado para a construção, escolheu a Praia de Iracema.

Retomado

Segundo a Assessoria da Secretaria de Infraestrutura do Estado (Seinfra), a proposta do Museu do Mar nasceu da demanda de se criar um espaço para incentivar o desenvolvimento de atitudes preservacionistas, estimular a reflexão sobre a relação dos grupos humanos com o mar, histórica e contemporaneamente, além de valorizar o patrimônio cultural dos povos do mar.

A intenção era que o projeto se tornasse um ícone cultural e turístico de Fortaleza. Ele está finalizado, com estimativas de custos em torno de R$ 27 milhões. Segundo a assessoria, o projeto deverá ser retomado pelo atual governo.

IRACEMA SALES

REPÓRTER

Crateús tem monumento à Coluna Prestes desde 2006
Memorial da Coluna Prestes, em Crateús, tem 13,5 metros e é o único no estado do Ceará assinado pelo arquiteto Oscar Niemeyer foto: Silvânia Claudino

Crateús. Para marcar os 80 anos da passagem da Coluna Prestes no Ceará, foi inaugurado, em 14 de dezembro de 2006 em Crateús, pelo então governador Lúcio Alcântara, um monumento em homenagem ao movimento encabeçado por Luiz Carlos Prestes.

Localizado na Praça da Estação, atual Gentil Cardoso, o Memorial da Coluna Prestes, de 13,5 metros é o único no Ceará assinado pelo arquiteto Oscar Niemeyer. A cidade foi a única do Estado onde houve combate entre o 2º destacamento da Coluna e as forças legalistas do governo Artur Bernardes.

Construído originalmente em local considerado inadequado por muitos moradores da cidade, em meio ao cruzamento de duas vias movimentadas, ano passado – após a modernização da Praça – o monumento ficou mais bem situado e valorizado. Uma fonte e carnaúbas estão à sua volta.

O arquiteto, que foi filiado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), criou e disponibilizou o projeto para os municípios pelos quais a Coluna passou. No Ceará, com iniciativa da Comissão de Anistia e recursos do governo do Estado, o marco foi erguido. O de Crateús é o único no Estado e o quarto no país. A obra, em concreto custou R$ 65 mil aos cofres do Estado.

Na época da inauguração do marco, Lúcio já se despedia do governo, e na sua fala considerou um privilégio inaugurar a obra. “Como governador me sinto privilegiado em ter a oportunidade de fazer esse reconhecimento”, disse Lúcio. O prefeito de Crateús à época, José Almir Claudino Sales, destacou a importância do marco para a história do país e lembrou dos dois homens mortos por ocasião do combate em Crateús. Em 1926, “os revoltosos” comandados por Prestes passaram pela cidade de Crateús. O capitão João Alberto chefiava o grupo.

Cerca de 100 soldados foram mobilizados pelo comandante da policia, Tenente Peregrino, para enfrentar os homens da Marcha, que chegaram em grupos e entraram por áreas distintas da cidade. A antiga Praça da Estação foi o palco inicial para o tiroteio entre policiais e o grupo de Prestes. No conflito, morreram o Tenente Tarquínio e o Cabo Antônio Cabeleira.

Livro

A população local pouco conhece sobre a história da passagem da Coluna. Os mais idosos relembram, os jovens não. O padre Geraldo Oliveira Lima é um dos poucos que consegue recordar claramente a história do movimento que marcou a história do país. Na década de 1970, padre Geraldinho passou oito anos pesquisando e entrevistando testemunhas. O resultado foi a obra “Marcha da Coluna Prestes Através do Ceará”, livro que conta com detalhes a passagem da Coluna no Estado. Em 365 páginas, padre Geraldinho narra os acontecimentos desde a travessia da Coluna no território do Piauí, até a saída do Estado do Ceará.

SILVÂNIA CLAUDINO

REPÓRTER

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