ENTREVISTA-Venda de ativos da Petrobras no exterior será parcial
RIO DE JANEIRO (Reuters) - O programa bilionário de desinvestimentos da Petrobras não deverá incluir a saída da estatal de qualquer país onde atua no momento, com a venda de ativos prevista para ocorrer de maneira apenas parcial, informou nesta terça-feira o diretor da Área Internacional da petroleira, Jorge Zelada.
"Não temos interesse em sair de nenhum país onde estamos", disse o executivo em entrevista à Reuters, na sede da empresa, no Rio.
A empresa projeta em seu plano de negócios 2011-2015 se desfazer de ativos de 13,6 bilhões de dólares nos próximos dois anos. O objetivo é concentrar os recursos disponíveis na exploração do pré-sal da bacia de Santos, uma nova fronteira exploratória que demandará investimentos gigantescos para ser desenvolvida.
A Petrobras produziu 239 mil barris por dia de petróleo e gás no exterior em 2010 e pretende aumentar este volume para 304 mil barris em 2014, mantendo o mesmo nível de produção até 2020. A produção total da empresa somou 2,7 milhões de barris diários (óleo equivalente) no ano passado e deve subir para 3,9 milhões de barris em 2014, chegando a 5,3 milhões de barris em 2020.
A maior companhia brasileira poderá se desfazer de ativos de energia na Argentina, bem como ofertar a outras empresas participações em blocos exploratórios em todo o planeta, na medida em que estes se valorizem com descobertas de novos reservatórios --como é o caso de áreas na Namíbia, Angola e Golfo do México, disse Zelada.
PERFURAÇÃO RETOMADA NO GOLFO
No Golfo do México (EUA), a petroleira retomou as atividades de perfuração após a moratória estabelecida pelo governo norte-americano, em virtude da explosão da plataforma da BP no campo de Macondo.
Zelada afirmou à Reuters que a Petrobras iniciou perfuração na área Cascade-Chinook, onde já possui poços que vão começar a produzir em dezembro, disse ele.
A produção inicial deverá ser da ordem de 20 mil barris por dia, alcançando nos meses seguintes a capacidade total de 80 mil barris diários.
A plataforma, que já está no local de produção à espera de acertos técnicos, é a primeira unidade do tipo FPSO, um navio flutuante, a operar na região, lembrou Zelada.
Para tanto, a Petrobras preparou uma unidade preparada para o clima da região, onde a ocorrência de frequentes furacões exigem que as plataformas possam interromper suas atividades a qualquer momento.
PROSPECTOS NA NAMÍBIA
Também disposta a receber parceiros para desenvolver áreas exploratórias na costa oeste africana, a Petrobras avança em países como Namíbia e Angola.
Na Namíbia, a estatal brasileira concluiu a aquisição de dados de um bloco e agora está interpretando tais estudos. Mas já foi possível identificar "alguns prospectos que podem ser objetivo de perfuração", segundo Zelada.
O diretor pondera que a Petrobras ainda terá de se debruçar mais sobre os estudos geológicos para definir onde poderá realizar perfurações na região.
MAIS FUNDO EM ANGOLA
Em Angola, a estatal já sabe onde vai perfurar: o bloco 26, no início de 2012, e a área 18, onde três poços já foram perfurados, sem sucesso.
"Vamos fazer mais um furo, mas com objetivo diferente, mais profundo", contou Zelada, referindo-se ao bloco 18.
O executivo disse que a Petrobras tem especial interesse na África. "A costa oeste africana é um foco estratégico porque existe similaridade com nossa costa brasileira", afirmou.
Na mesma região, a Petrobras possui atividades na Nigéria e em Benim, onde a empresa adquiriu neste ano um bloco.
Sobre a possibilidade de explorar estas áreas em parceria com outras empresas por meio da venda de parte dos blocos, Zelada afirmou que esta possibilidade sempre existiu, mesmo antes do anúncio do plano de desinvestimento da petroleira.
E citou como exemplo da estratégia da petroleira a venda de 50 por cento de participação em um bloco na Tanzânia para a Shell, em operação comunicada ao mercado recentemente.
"Já tínhamos planejado, em alguns ativos, de fazer desinvestimento, parcial que fosse, já tínhamos isso como planejamento", disse. "Isso não mudou muito, o que muda às vezes é a maneira de fazer o negócio", acrescentou.
AMÉRICA DO SUL
De acordo com Zelada, a Petrobras continuará presente na América do Sul, onde possui ativos ao longo de toda a cadeia do petróleo, da exploração à distribuição de combustíveis.
Na Argentina, onde a estatal atua em vários setores, a possibilidade é de se desfazer de ativos na área de energia elétrica, que foge da sua área de negócios.
"Identificamos muitos ativos que não eram nosso foco de negócio", lembrou. "Se eu não tenho energia elétrica no Brasil, por que vou ter na Argentina?", indagou ele.
O executivo, entretanto, frisou que a empresa não está negociando tais ativos. Ele disse que ainda não há um comprador. A Petrobras já havia exposto a possibilidade de vender ativos nessa área.
O diretor da Petrobras reafirmou que a companhia não pretende sair da Bolívia, onde possui importantes blocos de exploração e produção de gás natural.
"Não estamos liquidando as coisas; em cada país a gente tem atividade diferente. Não temos interesse em sair da Bolívia. Não temos interesse em sair de nenhum país em que a gente está", disse.
SAíDA NATURAL
"Saímos de países onde sairíamos de qualquer forma", acrescentou.
A Petrobras deixou recentemente o Equador porque o governo local decidiu retomar os ativos, colocando as empresas como prestadoras de serviços. A estatal brasileira ainda aguarda o ressarcimento pelos investimentos que realizou no país, disse Zelada.
"Não nos interessa ser prestador de serviços", justificou.
Zelada disse ainda que a empresa deixou as operações na Índia recentemente porque não obteve sucesso em trabalhos exploratórios nos blocos que possuía naquele país.
No Japão, a empresa não descarta a possibilidade de vender participação na refinaria que possui no país, mas o diretor informa que o que existe ainda é uma possibilidade.
A Petrobras aguarda os próximos acontecimentos na Líbia para definir se fica ou sai daquele país.
As ações da companhia fecharam em alta de 1,3 por cento nesta terça-feira, enquanto o Ibovespa subiu 1 por cento.
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