Mercado aumenta estimativa de inflação em 2011; reduz 2012-Focus
Por José de Castro
SÃO PAULO, 2 Jan (Reuters) - O mercado financeiro aumentou ligeiramente sua previsão para a inflação pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2011, mas reduziu o prognóstico para os preços neste ano, de acordo com o relatório Focus do Banco Central, divulgado nesta segunda-feira.
Também segundo o documento, os agentes voltaram a reduzir suas estimativas para o crescimento da economia para o ano passado e 2012. A previsão para a Selic foi mantida em 9,50 por cento no final deste ano.
O mercado acredita que a inflação pelo IPCA fechará 2011 em 6,55 por cento, ante 6,54 por cento na estimativa anterior, terceira semana consecutiva de alta. Se tal previsão se confirmar, será a primeira vez desde 2004 -quando o IPCA subiu 7,60 por cento- que a inflação vai estourar o teto da meta, de 6,50 por cento.
Para 2012, por outro lado, investidores reduziram pela quinta semana seguida a estimativa para a alta do IPCA em 2012, acreditando agora que o índice terá acréscimo de 5,32 por cento no acumulado deste ano, contra 5,33 por cento há uma semana. Os agentes acreditam que a inflação convergirá ainda mais para o centro da meta (4,5 por cento) em 2013, fechando o ano em 5,00 por cento.
No caso da Selic, o mercado manteve as perspectiva de que a taxa básica de juros terminará 2012 em 9,50 por cento ao ano, com mais dois cortes de 0,50 ponto cada em janeiro e março. Mas investidores projetam que o BC elevará o juro a 9,75 por cento em fevereiro de 2013, com a taxa alcançando 10,25 por cento em junho de 2013 e 10,38 por cento no final do ano que vem, segundo a mediana das estimativas.
Em 2011, o BC cortou a Selic em três ocasiões, para 11,00 por cento ao ano, em meio aos esforços do governo para estimular a economia, afetada pela crise internacional. Ainda assim, mesmo com mais perspectivas de reduções da taxa básica, investidores seguiram reduzindo as projeções para o crescimento da economia.
Segundo o Focus, a mediana para as previsões para a alta do Produto Interno Bruto (PIB) em 2011 caiu a 2,87 por cento, ante 2,90 por cento na semana anterior. Para 2012, o crescimento estimado foi reduzido a 3,30 por cento, contra 3,40 por cento no documento anterior. A estimativa para o avanço do PIB em 2013 ficou em 4,25 por cento.
Em relação ao dólar, o mercado aposta que a taxa de câmbio terminará 2012 em 1,75 por cento, segundo a mediana dos prognósticos.
PREVISÕES NO FINAL DE 2010 E A CRISE
O comportamento dos mercados em 2011 não corroborou as previsões de investidores contidas no último relatório Focus de 2010, em boa parte devido ao agravamento da crise na zona do euro.
No final de 2010, o cenário para a inflação em 2011 já estava piorando, mas as estimativas eram bem menores que as taxas anuais registradas em boa parte do ano passado e não contemplavam a possibilidade de estouro da meta.
No último relatório Focus de 2010, a previsão para a alta do IPCA em 2011 estava em 5,32 por cento, subindo pela quarta semana consecutiva. A essa altura, o crédito estava farto e o desemprego batia mínimas recordes, já acendendo a luz amarela sobre possíveis pressões inflacionárias.
Para conter a piora nas expectativas, o governo anunciou em dezembro daquele ano medidas de restrição no crédito à pessoa física, visando moderar o consumo. Ainda assim, o que se viu no decorrer de 2011 foi um salto nos preços, que anualizados superaram 6 por cento já em fevereiro e chegaram a um pico de 7,31 por cento em setembro.
A piora no cenário internacional a partir do segundo semestre teve impacto relativamente moderado sobre a inflação, que ainda ameaça superar o teto da meta, de 6,5 por cento. Foi, no entanto, decisiva para uma reviravolta nas projeções para a Selic, com o juro básico terminando 2011 a 11,00 por cento ao ano, contrariando em cheio estimativa de 12,25 por cento ao ano contida no último relatório Focus de 2010.
A turbulência no exterior também provocou expressivas mudanças nas projeções para o crescimento da economia. No final de 2010, o mercado previa que o PIB brasileiro cresceria 4,5 por cento no ano passado, elevando essa projeção a 4,6 por cento no final de janeiro. Mas desde então as perspectivas vêm sendo revisadas para baixo, especialmente no segundo semestre, com os agentes agora prevendo que a atividade tenha crescido 2,87 por cento em 2011.
O dólar foi outra variável que não chancelou as perspectivas de investidores dadas no final de 2010. A moeda norte-americana chegou a cair à mínima desde 1999 em julho passado, mas o aumento da aversão a risco internacional fez a cotação disparar nos últimos seis meses, fechando 2011 com um salto de 12,15 por cento, a 1,8685 real na venda. O último Focus de 2010 trazia uma estimativa de 1,75 real para 2011.
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