sábado, 25 de agosto de 2012


'Não acho certo, não fiz por maldade', diz mãe que acorrentou filho no PR


Mulher de 30 anos disse que ficou com medo de que o filho fugisse.
Polícia encontrou o menino acorrentado na manhã de quinta-feira (23).


A mulher 30 anos que acorrentou o filho, de nove anos, em uma cama dentro de casa em Santo Antônio da Platina, no norte do Paraná, contou ao G1 na tarde deste sábado (25) que tomou a atitude pela segunda vez, na quinta-feira (23), porque o garoto não quis acompanhar ela e a irmã ao dentista e ele sempre tenta fugir de casa.
Menino é encontrado acorrentado à cama (Foto: Reprodução RPCTV)Menino foi encontrado pela polícia acorrentado à cama
(Foto: Reprodução RPCTV)
“Era coisa de 40 minutos. Até a porta estava aberta. Mas enquanto isso a ex-mulher do meu marido veio aqui, entrou e saiu gritando quando viu o menino preso. Ele tinha comida, estava vendo tv... não tinha nada disso de que ele estava sem água, sem comida”, relatou.
Segundo a mãe, em outra ocasião ela havia prendido o garoto à cama para mostrar como é “ruim”. “Uma vez, em um domingo, quando eu estava em casa, eu prendi ele por umas duas ou três horas e disse: ‘olha filho como é ruim, a mãe não quer ter que fazer isso com você”, contou.
Ao telefone, enquanto o filho tentava chamar atenção, a mãe contou que a criança sempre apresentou comportamento difícil. “Como três anos ele subia em árvores, em muros, telhados de casas, e eu tinha que chamar os bombeiros para atirarem ele de lá”, lembrou. Agora, aos nove, ela diz que ele surta, na escola agride os colegas e os professores, quebra as carteiras, sai de casa em avisar e chegou a roubar a carteira dela e do padrasto.
Quando questionada se foi contastado que o menino tem transtorno psicológico, a mãe afirma já foram feitos vários exames neurológicos que não apontaram distúrbio. "Me falaram que era de comportamento, falta de educação. Acho que ele faz para chamar a atenção".
O conselheiro tutelar do município Davi Silva, que acompanha o caso da família desde 2008, disse que "a mãe e o padrasto nunca foram omissos e sempre procuraram ajuda". Segundo ele, vários pedidos já foram protocolados na prefeitura para que um psiquiatra infantil fosse disponibilizado para atender o menino.
De acordo com o chefe de gabinete do prefeito de Santo Antônio da Platina, no norte do Paraná, Joel Rauber, o Executivo realizou um processo licitatório para contratar uma clínica e assim oferecer tratamento específico para o garoto. A clínica médica vencedora é de Londrina e a prefeitura disponibilizou transporte para a família, porém, por um motivo desconhecido por ele, a mãe não levou a criança até a clínica. "Eu não consegui descobrir até agora", disse Rauber.
"Não houve omissão do município. Inclusive, ele tem diversas passagens pela Casa Lar [espécie de centro de ressocialização]", argumentou Rauber.
Eu repreendo ele, deixo ele de castigo no quarto sem tv e converso. Mas não resolve. A gente sempre teve cuidado. Ele jamais ficou sozinho"
Mãe do garoto
A prefeitura afirma que desde fevereiro de 2011, o menino é atendido pelo Centro de Apoio Psicossocial (Caps) e é medicado com uma droga para mantê-lo mais calmo. A situação é considerada, pelo chefe de gabinete, complexa. "Ele é um menino hiperativo. O psicólogo tem dificuldade para atende-lo, ele chuta, cospe, morde o médico, se esconde debaixo da mesa, de planta, você começa a conversar ele vai para debaixo da mesa... É um quadro complicado, não é um caso simples", afirmou.
Contudo, a mãe do garoto conta que os remédios que foram receitados não fazem efeito. Sobre o tratamento psiquiátrico em Londrina, ela disse que nunca foi notificada.
Ela ainda relata que quando levava ele ao psicólogo, na maioria das vezes “ele se recusava a ser atendido”. “O psicólogo me disse que ele é muito inteligente, a ponto de ludibriar as pessoas, que quando ele para para conversar, ele [o menino] é que vira o entrevistador”.
A criança de nove anos mora com a mãe, o padrasto e os três irmãos, de dez, 11 e 13 anos. A mãe trabalha como vendedora em uma loja de roupas e o padrasto, de 40 anos, é mecânico. Ela disse que sempre buscou ajuda e realmente permitiu o garoto ficar na Casa Lar, no ano passado, para que a ajuda do Estado chegasse mais rápido. Contudo, o garoto conseguiu fugir de lá.
Sem saber o que fazer, a mãe conta que está levando ele para a igreja e “entregando na mão de Deus”. “Eu repreendo ele, deixo ele de castigo no quarto sem tv e converso. Mas não resolve. (...) A gente sempre teve cuidado. Ele jamais ficou sozinho”, relatou.
Depois da repercussão que o caso ganhou a mãe disse que pediu perdão para o filho. “Não acho certo, mas não fiz por maldade. Ele sabe disso", disse.
Na manhã de quinta-feira, quando o menino foi encontrado pela polícia acorrentado à cama, ele foi levado para o abrigo do município. A mãe e o padrasto dele foram chamados na delegacia, assinaram um termo circunstanciado e liberados. Eles vão responder criminalmente por maus tratos.
A corrente em que o menino foi preso foi apreendida pela polícia. E como o conselheiro entendeu que a criança ainda fica melhor no ambiente familiar do que no abrigo, ele voltou para casa no mesmo dia.

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