sexta-feira, 2 de março de 2012


Ignorado nas ruas, Fabiano Oliveira admite deslizes: 'Agora dou valor'

Depois de surgir como promessa no em 2004 e passar por clubes modestos da Europa, atacante ainda espera fazer sucesso com a camisa do Flamengo


Fabiano Oliveira vai completar 25 anos no dia 6 de março. Apesar da pouca idade, o menino de origem humilde, nascido em Seropédica, município do Rio, viveu o conto de fadas e os monstros típicos do futebol. Formado no Flamengo, o jogador foi tido como promessa, chegou à Seleção Brasileira sub-20, foi titular do Rubro-Negro, levou uma rasteira do deslumbramento, não conseguiu driblar as tentações, virou cigano do esporte e está de volta ao clube da Gávea. Apesar do olhar torto e julgamentos por parte da torcida, ele quer ficar.
O atacante viu seu pai abandonar a família quando ele tinha três anos. A mãe, Iracema, sempre trabalhou como empregada doméstica para sustentar os filhos. Fabiano Oliveira viu na bola a ponte de salvação, mas tropeçou no meio do caminho.
- Quando a gente é novo, surge muita coisa que não sabemos aproveitar, acabamos caindo em algumas tentações, cometemos deslizes - admitiu Fabiano Oliveira que, mais uma vez, retornou ao clube e até agora ainda não ouviu a palavra "empréstimo".
Fabiano Oliveira, atacante do Flamengo.  (Foto: janir Junior / globoesporte.com)Fabiano Oliveira tenta superar erros do passado e espera chance de Joel (Foto: Janir Jr. /Globoesporte.com)
Entre 2004 e 2006, Fabiano Oliveira disputou 49 jogos pelo Flamengo e fez apenas oito gols. Ao deixar o clube, ele passou por Goiás (2007), Nacional-POR (2008)  e defendeu dois clubes da Turquia, onde ficou por três anos e meio: Giresunspor e Boluspor.
- É raro encontrar alguém que me conhece, só onde eu moro mesmo que sabem que sou jogador - afirmou o atacante, que chegou a vestir a 9 do Rubro-Negro em alguns jogos.
Sua última partida com a camisa do Flamengo foi no dia 2 de dezembro de 2006, na vitória por 4 a 1 sobre o São Caetano. O último gol, que o jogador nem lembra, foi sobre o Paraná, no mesmo ano, quando o time venceu por 2 a 0 (assista no vídeo ao lado).
Grande parte do dinheiro que ganhou Fabiano Oliveira gastou. O nascimento do filho Cauã, que está com cinco anos, serviu para colocar um freio nas badalações. À espera de uma oportunidade que Joel Santana prometeu lhe dar, o atacante tenta reconstruir sua carreira. E acabar de construir sua casa em Seropédica.
- Estou terminando de fazer minha casa que sempre sonhei para o conforto da minha família. Quem sabe um dia, fazendo uma boa partida, um gol depois de todas essas coisas que passei, possa fazer uma matéria lá com um churrasquinho? - sugeriu o jogador.
Depois de roer o osso e ficar atravessado na garganta da torcida, Fabiano Oliveira sonha com o filé.
GLOBOESPORTE.COM: Quando se fala em futebol, todos pensam em sucesso, coisas fáceis, idolatria... Você surgiu como jogador do Flamengo, promessa, mas é a prova de que nem sempre a história tem capítulos felizes. Você rodou, foi para Turquia, sofreu questionamento no Flamengo...
Essas minhas passagens fora do Brasil, até aqui mesmo no país, me fizeram amadurecer, estou mais focado. Quando a gente é novo, surge muita coisa que não sabemos aproveitar. Acabei caindo em algumas tentações, cometi deslizes"
Fabiano Oliveira
FABIANO OLIVEIRA: Às vezes, é complicado. Tentamos um time, ficamos sem oportunidade no clube onde estamos. Então, é preciso procurar novos ares para dar continuidade a nossa carreira, aparecer e ser valorizado. Mas jogador tem que ter consciência que nada cai do céu. Tenho que trabalhar no dia a dia para, quando surgir oportunidade, dar o melhor e ficar no Flamengo. Agora, minha meta é jogar aqui, coisa que fiz muito pouco. Só no começo da minha carreira. Pretendo ficar bastante para aproveitar.
Depois de surgir como jogador do Flamengo, você foi questionado e seu nome só aparecia quando falavam que você era emprestado ou voltava de empréstimo. Você acredita que ainda pode dar certo no Flamengo?
Estou mais maduro, essas minhas passagens fora do Brasil, até aqui mesmo no país, me fizeram amadurecer, estou mais focado. Quando a gente é novo, surge muita coisa que não sabemos aproveitar. Acabei caindo em algumas tentações, cometi deslizes. Mas com a rodagem e as dificuldades, agora dou valor ao que o Flamengo me deu. Então, pretendo ajudar a equipe.
Como é para um menino de origem humilde, nascido em Seropédica, acabar na Turquia?
É complicado. Foi assustador por causa da língua, da alimentação, tive que levar comida do Brasil para lá. Depois de seis meses, me adaptei e fui bem, fiz um bom campeonato. Mas minha meta era jogar bem lá fora para tentar ir bem no Flamengo, mas chegava aqui e não era aproveitado. A vida de jogador passa rápido. Ontem eu tinha 17 anos, agora vou fazer 25, então, como a oportunidade não estava aqui, tive que procurar em outros lugares.
Você ainda mora em Seropédica?
Continuo lá, sim, até porque o Ninho fica próximo. Não tenho necessidade de gastar dinheiro morando em lugares valorizados como Barra, Recreio. Tenho condições, mas no meu momento financeiro não vale a pena. Quem sabe futuramente, voltando a jogar, eu possa ficar mais perto. Mas Seropédica fica a 40 minutos daqui do Ninho, moro aqui atrás desse moro (aponta para os morros próximos ao Ninho). Nem se torna cansativo.
Fabiano Oliveira, atacante do Flamengo.  (Foto: Janir Junior/Globoesporte.com)'Só vi meu pai até os três anos, ele deixou a família
de lado' (Foto: Janir Jr./Globoesporte.com)
Você ainda é reconhecido como jogador do Flamengo?
Difícil, né?! Fiquei três anos e meio fora do Flamengo. Eu vinha, ficava um mês e era emprestado de novo. A torcida não acompanha os campeonatos lá fora. Alguns ainda reconhecem, mas antigamente era mais frequente. É raro encontrar alguém que me conhece, só onde eu moro mesmo que sabem que sou jogador. Mas isso vem com o tempo, acho que vou ser reconhecido.
O futebol chegou a te iludir em algum momento?
Certas amizades me prejudicaram bastante, hoje em dia tenho consciência disso. Se tivesse boa estrutura de família não tinha caído em tentações. Não tive pai, mas no futebol você tem chance de reverter. Só vi meu pai até os três anos, mas ele deixou a família de lado. Minha mãe é empregada doméstica, sempre trabalhou, segurou as coisas. Acabei me deslumbrando com as coisas do futebol, mordomia, amizadas fáceis. Na situação que estou hoje, são poucos amigos: quando está bem é um monte, quando está mal é complicado. Vou procurar não errar mais.
E o que mudou na sua vida para deixar de lado as tentações e erros do passado?
Tem tanto tempo que não faço gol pelo Flamengo... É um sonho estar bem, ajudar a equipe, ver a torcida me aplaudir"
Fabiano Oliveira
Estou casado (com Fernanda), meu filho (Cauã) vai fazer cinco anos. Depois que ele nasceu, eu amadureci, ganhei mais responsabilidade. Agora, não tenho que pensar só em mim, mas na minha família. Solteiro é diferente, só trabalha para gente, ajuda nossa mãe, mas não tem tanta responsabilidade como quando tem o filho.
Você lembra do seu último gol pelo Flamengo?
Tem tanto tempo que não faço gol pelo Flamengo... É um sonho estar bem, ajudar a equipe, ver a torcida me aplaudir. O professor Joel falou que todos serão utilizados na hora certa.
O que você conseguiu com o futebol de melhorias na sua vida pessoal?
Tenho meu carro e estou terminando de fazer minha casinha que sempre sonhei para o conforto da família. Espero melhorar no futebol e também financeiramente.
Boleiro gosta de churrasco, já tem churrasqueira?
Tem, sim. Falta piscina, com um calor desse ninguém aguenta. Quem sabe um dia, fazendo uma boa partida, um gol depois de todas essas coisas que passei, possa fazer uma matéria lá com um churrasquinho?

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