segunda-feira, 19 de março de 2012


‘Estamos cansados de competições para cegos’



Pedro Tibério consegue jogar xadrez ao memorizar as peças, após tocá-las
Estudante do curso de História na Universidade do Vale do Acaraú (UVA), faixa marrom em judô e bom jogador de xadrez. As qualidades não seriam tão relevantes se Pedro Tibério de Oliveira, 21, não fosse portador de necessidades especiais por meio de deficiência visual.
Morador do município de Santana do Acaraú, Pedro Tibério disputou nesse sábado (17) a primeira etapa do Circuito de Xadrez Rápido – Fortaleza Esporte Arte e Cidadania, na Câmara Municipal de Fortaleza. Para conseguir jogar, o enxadrista usou um tabuleiro com peças com pinos. A cada lance, Tibério tocava as peças e as memorizava.
Apesar das dificuldades, o estudante universitário conseguiu vencer três adversários e empatar com um outro, todos sem nenhum tipo de necessidade especial.
“Tenho quatro décadas de xadrez e mais de 80 competições, mas nunca havia visto algo parecido. Ele (Tibério) armou uma estratégia para ganhar um peão e cheguei a duvidar que seria isso mesmo que ele estaria planejando, pois teria que ter, além de memorizado as peças no tabuleiro, antecipado cinco jogadas. Mas foi isso mesmo que ocorreu, algo impressionante para a condição do jogador. Naquele momento entendi que o Tibério não precisava da nossa piedade, mas de incentivo”, relatou o jornalista Nicolau Araújo, 46, quarto colocado na competição.
Acostumado aos desafios da vida, Pedro Tibério disse estar cansado de disputar competições para portadores de necessidades especiais por meio de deficiência visual. Segundo o estudante universitário, o sentimento também é de outros competidores da “categoria”.
“Estamos cansados de competições para cegos. Queremos disputar todas as modalidades esportivas com pessoas que enxergam perfeitamente. Claro que um competidor tem que se adaptar às condições do outro. Mas é assim que queremos”, afirmou.
O maior adversário dos atletas portadores de necessidades especiais por meio de deficiência visual, no entanto, é o mesmo que muitos competidores “normais”: a falta de patrocínio.
Para disputar o Campeonato Brasileiro de Xadrez para portadores de necessidades especiais por meio de deficiência visual, em Minas Gerais, no ano passado, Tibério teve que custear suas passagens, hospedagem e alimentação. O mesmo ocorreu em Fortaleza, nesse sábado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...