sábado, 9 de março de 2013



Banco popular multiplica empreendedores no Interior




Em todo o Ceará, existem 37 moedas circulando e destas, 31 no Interior, fomentando o empreendedorismo
Em Timbaúbas, distrito de Juazeiro do Norte, o banco de desenvolvimento comunitário beneficia 13 mil pessoas FOTO: YAÇANÃ NEPONUCENA


Iguatu. A partir da experiência do Banco Palmas, no Conjunto Palmeiras, na periferia de Fortaleza, a implantação de outros bancos comunitários e solidários com moedas próprias surgiram no Brasil. Hoje são mais de 150 instituições financeiras populares implantadas em pelo menos 20 Estados. No Ceará, há registro de 37 moedas sociais, sendo seis na Capital.

Na cidade de Acarape, no próximo dia 21, haverá o relançamento do banco solidário e da moeda social, que mudou de nome. Em vez de Vale Acarape, agora é Palmares.

O objetivo dos organizadores da instituição é ampliar não somente as ações, mas também a oferta de crédito e de capacitação profissional para os jovens e empreendedores locais.

Histórico


A criação do Banco Acarape ocorre a partir da experiência exitosa do Banco Palmas, que oferece assessoria e crédito. A mobilização social remonta ao início da década de 1990, quando, na cidade, foram implantadas cooperativas de costureiras e uma fábrica de máquinas industriais de costura, por meio de iniciativas de empresários coreanos com investimentos de bancos oficiais.

Na época, começava o esforço do Governo do Estado em atrair capital e empresas externas para um novo ciclo de industrialização no Interior. Nas cooperativas, havia mais de duas mil costureiras trabalhando, cortando e costurando peças de jeans. Dez anos depois, o projeto fracassou com a saída dos empresários e o também com o fim da isenção de incentivos fiscais.

Os problemas sociais surgiram, dentre eles o desemprego. As dívidas trabalhistas foram quitadas com a apreensão das máquinas industriais de costura, por decisão da Justiça do Trabalho. Apesar das dificuldades enfrentadas pelos ex-empregados ficou a vocação local. Muitos continuaram a produzir peças em casa, mas faltavam capacitação técnica e meio para manutenção e renovação do maquinário.

Diante desse cenário, surgiu em 2004, o Banco Acarape, uma instituição solidária, sob a coordenação do Banco Palmas. Em pouco tempo, mais de R$ 30 mil foram concedidos pelo sistema de crédito solidário para cerca de 50 costureiras. A ideia deu certo e a inadimplência ficou bastante reduzida.

Ampliação


As ações em apoio aos empreendedores avançaram com a criação do Projeto Acarape de desenvolvimento em rede de caráter social, comunitário e popular. Foram firmadas parcerias entre o setor público e privado e o chamado terceiro setor, as organizações sociais. "Conseguimos, com poucos recursos, bons resultados", comemora o coordenador do projeto, Pedro Henrique Alcino. "A cidade hoje é um celeiro de desenvolvimento", acrescenta o coordenador.

O esforço da Secretaria Municipal de Planejamento é atrair instituições nacionais e internacionais para apoiar as ações definidas no projeto social e de empreendedorismo.

O Programa Nacional de Desenvolvimento (PNUD) das Nações Unidas (ONU) e a Universidade da Integração Internacional Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), sediada em Redenção, são parceiras do programa de desenvolvimento social local. "O nosso objetivo é trabalhar com organizações não governamentais de certificação nacional e internacional para apoiar os nossos projetos", frisou Pedro Henrique Alcino.

Os próximos passos serão a ampliação da carteira de crédito do Banco Acarape, em pelo menos dez vezes, resgatar a feira livre, oferecer capacitação profissional, apoio e assessoria para os empreendedores individuais. "Vamos, com essas ações, aquecer a economia local", frisou Pedro Alcino. "O município foi dividido em 22 territórios e concluímos um censo sobre consumo e produção familiar. A ideia é aproveitar o trabalho de cerca de 150 costureiras e a produção de mais de 200 mil peças de jeans por mês e agregar valor a esse produto, implantando toda a cadeia produtiva da confecção".

Irauçuba


No distrito Juá, zona rural do município de Irauçuba, localizado na Zona Norte do Ceará, a Associação dos Jovens Empreendedores (AJE) mantém o Banco Juazeiro e a moeda social, chamada Cactus.

A instituição foi implantada em 2005, com o apoio do Banco Palmas, mas passou por um período fechado em decorrência de dificuldades de gerenciamento, manutenção e falta de capital próprio. "Reabrimos há três anos e com o apoio do município recomeçamos a funcionar", explicou a analista de crédito da instituição, Raquel Doroteu.

A falta de capital próprio e de apoio de instituições não governamentais impedem no momento a concessão de crédito aos moradores do distrito.

"Temos potencial produtivo, somos considerados a capital da produção de rede de dormir, de boa qualidade", observou Raquel Doroteu. "Estamos no processo de reformulação do banco e da moeda social", destaca.

A secretária de Desenvolvimento Econômico de Irauçuba, Daniele Pernambuco, ainda destacou a importância social e econômica dos bancos solidários existentes nos distritos de Juá e de Missi.

"A partir da implantação de correspondentes bancários, vai facilitar que moradores evitem deslocamentos para a cidade para fazer pagamento e recebimento de recursos dos programas sociais do Governo Federal e outros créditos. Esses recursos circulam na comunidade, fortalecendo a economia local".

Iniciativas


Na cidade de Juazeiro do Norte, desde 2011, uma nova moeda social é cada vez mais usada nos setores do comércio e de prestação de serviços. O Timba é aceito nos estabelecimentos no bairro Timbaúba. O objetivo é ajudar no desenvolvimento local. Atualmente, 13 mil pessoas que moram na localidade são beneficiadas. O uso da moeda social é simples: o cliente faz um cadastro no banco comunitário e pede um empréstimo. Esse dinheiro é repassado para a pessoa na moeda social, que é aceita em lojas no bairro. O dono do comércio vai ao banco comunitário e faz a troca da moeda pelo Real. São 200 pontos de venda.

Para evitar falsificações, as moedas possuem uma faixa prateada com alto relevo, que se for removida, danificando a cédula, ou se tirar cópia, fica visível a falsificação. "Não há risco do comerciante perder dinheiro e todo o empréstimo feito pelo banco em Timba já existe a mesma quantia guardada no banco para pagá-lo quando vier trocar as notas", diz Helena de Assis, agente do banco comunitário.

Já em Choró, no Sertão Central, o Banco Sertanejo, inaugurado em 2008, funcionou por um ano. A falta de apoio do setor público e de lastro financeiro impediu a continuação das atividades, coordenadas pelo Instituto de Desenvolvimento de Choró. "Reativaremos o convênio com a Prefeitura e esperamos voltar com os empréstimos e a moeda Sabiá", disse a agente de crédito Alzenir Vieira. Por enquanto, o banco está na sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e, praticamente, sem 

operação.

Palmas é referência como pioneiro

O Banco Palmas irá comemorar o Dia Internacional da Economia Solidária no dia 12. Iniciativa começou no Conjunto Palmeiras, em Fortaleza FOTO: KELLY FREITASIguatu. Uma experiência comunitária que começou tímida e com dificuldades, há 15 anos, no Conjunto Palmeiras, na periferia de Fortaleza, espalhou-se pelo Brasil, obteve êxito e hoje é modelo nacional de economia solidária. A criação do Banco Palmas mudou a vida dos moradores, fortaleceu as finanças das famílias, o comércio local e contribuiu para a melhoria da autoestima das famílias do bairro.

A instituição prepara-se para comemorar uma década e meia de fundação e sediará, de 12 a 15 de março, o 3º Encontro Nacional da Rede Brasileira de Bancos Comunitários.

Uma das principais lições que ensina o Banco Palmas é que o melhor caminho para superar a pobreza é o trabalho comunitário, solidário. Conceder crédito individual, sem assistência técnica e financeira, é um curto passo para o fracasso.

O Banco Palmas foi fundado em 20 de janeiro de 1998. De lá para cá, muitas coisas mudaram. "O que antes era uma utopia virou uma prática, uma referência nacional. Começamos com cinco clientes e dois mil reais em caixa, e hoje temos 14 mil clientes, 13 milhões de reais emprestados e uma rede de 103 bancos comunitários no Brasil", observa o coordenador geral do Banco Palmas, João Joaquim de Melo Neto.

Por meio do Instituto Palmas, a experiência de Fortaleza transformou praticamente em uma política nacional. "Hoje somos uma rede presente em 19 Estados", frisou Melo Neto.

Os números atuais impressionam. São 3.500 postos de trabalho gerados no bairro. Cerca de cinco mil pessoas beneficiadas por treinamento e quatro mil oportunidades no mercado de trabalho. De 15 mil assistidos, quase nove mil são mulheres beneficiadas com o Bolsa Família.

Os empreendedores locais recebem empréstimos com taxas de juros menores que os do sistema financeiro oficial, não há burocracia e foi criada uma moeda social própria, a Palma, que promove a circulação da riqueza no bairro. Uma Palma equivale a um Real. O lastro é obrigatório.

São 46 mil Palmas circulantes. Há cerca de 240 empreendimentos no Conjunto Palmeiras e as empresas oferecem desconto médio de 5% aos que utilizam essa moeda. No período de funcionamento da instituição, foram criadas seis empresas independentes. Na comunidade, cerca de 350 comércios foram financiados e apoiados mais de 200 outros serviços, como cabeleireiro e manicure.

Para comemorar os 15 anos de fundação, a entidade lançará um livro sobre a sua experiência. A obra tem a contribuição de sete pensadores brasileiros e a contra-capa escrita pelo pensador francês, Edgar Morin.

Há também uma pesquisa feita pelo Núcleo de Economia Solidária (Nesol) da Universidade de São Paulo, realizada em parceria com o Instituto Palmas, a Universidade de Columbia.

Segundo Melo Neto, o próximo passo será a criação do banco eletrônico. "Os bancos comunitários estão em lugares menos protegidos, vulneráveis a assaltos, arrombamentos". A ideia é criar o Palma Card. A partir do banco, foi criado o Palma Lab, em parceria com a Mahiti Infotech. O laboratório criou chip, aplicativo de celular para mapeamento, e em breve haverá disponibilidade de um programa para ajudar o empreendedor a fazer a gestão do seu negócio, disponível em plataforma de comunicação móvel.

No próximo dia 12, será realizado um evento em comemoração ao Dia Internacional da Economia Solidária. Na programação, também será criada ainda outra moeda destinada às crianças, a Palminha, fruto de uma preocupação com a nova geração, para que seja educada no sistema financeiro solidário e comunitário, com valores limitados entre um centavo e um real. "Vamos fazer 50 oficinas nas escolas, mostrando como a moeda funciona, qual a importância de comprar no bairro, do comércio justo e como o dinheiro circula", explicou Melo Neto.

HONÓRIO BARBOSA


REPÓRTER

Mais informações:


Banco Juazeiro, distrito de Juá, em Irauçuba


Fone: (88) 3635. 2095


Banco Acarape


Fone: (85) 8845. 7895 



FONTE: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1240722

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